terça-feira, 20 de agosto de 2013

HISTÓRIAS DO PASSADO SOBRE LESB.

Lésbicas: mulheres elevadas à máxima potência

Os livros de história sempre tiveram dificuldade em falar de mulheres que não respeitam os padrões de gênero. Viver sem homens em um mundo machista e de mentalidade patriarcal é uma afronta imperdoável aos machos da espécie.
No entanto, da Antiguidade aos tempos modernos a história é fértil em relatos protagonizados por guerreiras. As Amazonas. São abundantes as lendas de temíveis guerreiras na Grécia antiga. Essas histórias falam de mulheres treinadas desde a infância na arte da guerra, no manejo de armas e nas privações físicas. E, acima de tudo, viviam separadas dos homens.
As Amazonas representam (Mulheres) uma espécie de medo ancestral que os homens em geral têm até hoje. Ao se deparar com um grupo de mulheres poderosas, por certo os homens se lembram do período em que a humanidade viveu sob o matriarcado. Um tempo quando os homens lutavam até a morte para que o vencedor pudesse acasalar com a deusa-rainha-mãe, antes de ser ele mesmo oferecido em sacrifício.
Mais do que filhas de Safo, a poetisa grega da ilha de Lesbos, nós lésbicas, ouso dizer, somos as legítimas herdeiras das Amazonas. Subvertemos a ordem do sexo frágil, da dependência e da subserviência. Não seguimos o “manual de boas práticas femininas”, que dita modos de vestir, de agir, de falar, de ser e estar no mundo. Somos revolucionárias na acepção própria da palavra: fazemos uma transformação radical na estrutura da sociedade.
Seguimos desconstruindo certezas e quebrando o que estaria estratificado, a despeito das agressões e desqualificações cotidianas que sofremos. Não somos barro para que nos possam moldar rosto e destino, nem ferro para fundir em qualquer formato, retorcer os lábios e torcer de novo, soldar um novo corpo que pouco a pouco oxida com lágrimas salgadas.
Não somos pré-fabricadas. E não permitimos que nos preguem pregos nas mãos e obediência nos pés. Tão pouco que cortem as estruturas de nossos dias. Não somos madeira para gravar em nós o nome de um pretenso “dono”, nem página em branco de um contrato eterno de infelicidade.
Dia da Mulher?
Mulher… Poderia tecer páginas e páginas de uma ode à mais bela entre todos os seres. Mas quero aproveitar esta data para algumas reflexões. Bem, sei o que é ser mulher neste corpo que me acompanha nesta vida, com humores que oscilam meu temperamento o tempo todo.
Quando me dei conta que meu sexo é o feminino, despertei com ele para toda a cobrança histórica que já começa com a Eva bíblica (mesmo que eu não acredite na existência dela) e segue por toda a “estória” escrita por homens interessados em dominar as mulheres e o mundo. Com esse estigma na testa, sigo. Orgulhosa por ser mulher. Orgulhosa por ser lésbica.
Então, chega esta data. Todos os anos, no dia 8 de março, por todo o mundo cantam-se hinos, dizem da pele lisa e da beleza transcendental das mulheres. Esquecem-se, porém, de falar de toda violência consentida. De todos os golpes crus e ocres em nossos corpos, de todas as mãos que nos arrastam em solenes martírios; de todas as burcas confeccionadas com linhas abstratas de julgamento e superioridade.
Exaltam o sentimento puro e maternal. Todavia, se esquecem de publicar sobre as violações ignoradas, ventres amaldiçoados, rasgados e torturados. Elogiam nossas bocas suaves, mas preferem a omissão frente a todas as bocas barbaramente emudecidas e a todas as mordaças.
Enaltecem as mãos macias e ternas, apesar da aridez da vida, mas se esquecem de falar das correntes invisíveis e psíquicas, dos dedos trincados por anéis dourados. Escrevem sobre olhos ternos e preferem esconder ou fingir que não existem as tantas retinas manchadas de sofrimento.
Os machos querem esculpir-nos como sua melhor obra, “nascidas de sua costela”, modificando-nos a essência de acordo com seus interesses e cimentando-nos uma boca fechada, fazendo bater em nós um coração de chumbo, colocando-nos olhos cegos. Não. Não podemos aceitar. E resistimos, dia após dia.
Somos lésbicas. Somos mulheres que amam outras mulheres. Desafiamos a ordem estabelecida e não nos resignamos ao papel milenar que os homens têm relegado às mulheres, o de coadjuvantes da História. Somos as fêmeas elevadas à máxima potência do que é ser mulher.
Entre elas
Mulheres são de Vênus? Eu diria que sim, já que toda mulher é, de algum modo, filha de Afrodite (ainda que não só de Afrodite). Mulher! É cor rosa-choque? Isso eu não sei se é mentira ou verdade. Mas, se quiser ousar, então me provoque! E mostrarei o meu sexo frágil no seu tato. Essência fêmea, graça e beleza; todo o eflúvio e o fluxo de ser mulher em delicadeza.
Mulher… Por onde anda, seguem seus olhos de cristais diluídos no mar da sapiência, pressentimentos e anseios revelam sua intuição. Ciclos estranhos e naturais revigoram sua essência, hormônios exalam seu perfume de pura tentação. O leito do rio em sua adocicada fruta rosada inebria-me pela volúpia do seu instinto e anuncia a nascente do prazer da amante amada, hipnotizador e irresistível qual o aroma de ambrosia.
Mulher! Da inspiração que foi criada, tornou-se a Musa da Poetisa Maior, a Deusa-Mãe, que nos deu o poder do portal da luz na jornada da vida.
Beijaço
Neste dia em que o mundo se dá conta superficialmente de sua face mulher, proponho uma ação de autoafirmação a cada uma de nós: beije-se no espelho. Isso mesmo. Não esperemos que alguém se lembre da particularidade que é serem mulheres e lésbicas nessa sociedade.
Não nos contentemos com os carinhos daqueles que insistem em nos diminuir em todos os outros dias do ano. Não nos deixemos seduzir pela gentileza fake daqueles que nos perseguem e descreditam enquanto seres humanos sempre que podem.
Marquemos neste dia ainda mais a nossa independência! Sejamos nós a nos acariciar, a nos cumprimentar, a nos beijar. Sejamos nós a sorrir-nos! Porque existe sempre um sorriso esperando por nós em algum lugar de nosso eu-fêmea, desejando nosso beijo mais colorido.

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